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PATOLOGIAS COMUNS NAS REGIÕES DE MATA ATLÂNTICA: Malária



Mosquito do gênero Anopheles, responsável pela transmissão da malária
A malária humana é uma doença parasitária que pode ter evolução rápida e ser grave. A malária é uma doença parasitária causada por protozoários do gênero Plasmodium, parasita que é transmitido aos seres humanos, obrigatoriamente, através da picada de fêmeas de mosquitos Anopheles infectadas. Ela pode ser provocada por quatro protozoários do gênero Plasmodium: Plasmodium vivax, P. falciparum, P. malariae e P. ovale. No Brasil, somente os três primeiros estão presentes, sendo o P. vivax e o P. falciparum as espécies predominantes
Segundo a hipótese de Deane e colaboradores (1966), os macacos bugios da Mata Atlântica servem como espécies reservatórias de Plasmodium, sendo que este é transmitido aos seres humanos através da picada de mosquitos Anopheles cruzii. Essa espécie é conhecida por fazer repasto sanguíneo (alimentar-se de sangue) em primatas não-humanos nas copas das árvores e em humanos no nível do solo.
Após a picada, os parasitos chegam rapidamente ao fígado onde se multiplicam de forma intensa e veloz. Em seguida, já na corrente sanguínea, invadem os glóbulos vermelhos e, em constante multiplicação, começam a destruí-los. A partir desse momento, aparecem os primeiros sintomas da doença.
A doença também pode ser adquirida por meio do contato direto com o sangue de uma pessoa infectada (como por exemplo, em transfusões sanguíneas ou transplante de órgãos ou ainda pelo compartilhamento de seringas entre usuários de drogas injetáveis).
Áreas endêmicas ou de transmissão de malária são aquelas que apresentam registros contínuos de casos da doença durante todo o ano. Como áreas de transmissão natural de malária (pela picada do mosquito) estão classificadas 88 países, a grande maioria localizada na faixa tropical do planeta.
A malária que ocorre fora da região amazônica é nomeada malária-bromélia. A doença recebe esse nome porque o vetor que a transmite, Anopheles cruzii, ocorre associado a essas plantas, e utilizam a água retida em suas axilas como criadouro para suas formas imaturas. Essa espécie de mosquito costuma ser amplamente encontrada em regiões de Mata Atlântica, bioma que é rico em bromélias.
A principal manifestação clínica da malária em sua fase inicial é a febre, associada ou não a calafrios, tremores, suores intensos, dor de cabeça e dores no corpo. A febre na malária corresponde ao momento em que as hemácias estão se rompendo. A pessoa que contraiu a doença pode ter também, dentre outros sintomas, vômitos, diarréia, dor abdominal, falta de apetite, tonteira e sensação de cansaço.
Qualquer doença febril em (ou vindo de) áreas de transmissão de malária deverá ser encarada como malária, até que seja esclarecido o diagnóstico. Entretanto, febre em uma pessoa proveniente de área endêmica de malária não significa necessariamente que ela esteja com a doença. Outras doenças, transmitidas ou não por insetos, e com sintomas semelhantes aos da malária, podem estar presentes nessas regiões. Ao apresentar febre durante a viagem ou após o regresso, mesmo tendo utilizado medicamentos antimaláricos de forma quimioprofilática, deve o viajante buscar imediatamente auxílio médico informando o uso destes medicamentos e que esteve em área de transmissão de malária.
O período de incubação é o tempo transcorrido entre a picada do mosquito infectado e o aparecimento dos primeiros sintomas. Ele pode variar de 8 a 30 dias ou até mais, dependendo da espécie de Plasmodium, da carga parasitária injetada pelo mosquito no momento da picada e do sistema de defesa do paciente. Durante esse período, que corresponde à fase em que o Plasmodium está se reproduzindo no fígado do indivíduo, não há sintomas.
A malária é uma doença que tem cura, mas pode evoluir para suas formas graves em poucos dias se não for diagnosticada e tratada rapidamente, principalmente a causada pelo P. falciparum, que deve ser sempre considerada como uma emergência médica. O diagnóstico e o tratamento tardios podem resultar no agravamento da doença com quadros de anemia grave, insuficiência renal e hepática e coma, dentre outras complicações clínicas. Praticamente, todos os órgãos e sistemas podem ser comprometidos. Crianças, mulheres grávidas, pessoas idosas ou debilitadas por outras doenças (infecciosas ou não infecciosas) são mais vulneráveis. Entretanto, qualquer pessoa que esteja se infectando pela primeira vez pode desenvolver quadros de malária grave.
As medidas de proteção individual são as formas mais efetivas de prevenção, considerando-se que ainda não existe uma vacina disponível contra a malária. Essas medidas têm como objetivo principal impedir ou reduzir a possibilidade do contato homem-mosquito transmissor.
Em áreas de transmissão é considerado comportamento de risco frequentar locais próximos a criadouros naturais de mosquitos, como beira de rio ou áreas alagadas no final da tarde até o amanhecer, pois nesses horários há um maior número de mosquitos transmissores de malária circulando. É importante também diminuir ao mínimo possível a extensão das áreas descobertas do corpo com o uso de calças e camisas de mangas compridas. Além disso, as partes descobertas do corpo devem estar sempre protegidas por repelentes que também devem ser aplicados sobre as roupa.
REFERENCIAS:
Brasil P, Zalis MG, de Pina-Costa A, Siqueira AM, Júnior CB, Silva S, et al. Outbreak of human malaria caused by Plasmodium simium in the Atlantic Forest in Rio de Janeiro: a molecular epidemiological investigation. Lancet Glob Heal. 2017 Oct;5(10):e1038–46.

CPD - Mal Centro de Pesquisa, Diagnóstico e Treinamento em Malária da Fiocruz, e a Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária, órgãos do Ministério da Saúde. Conheça a Malaria.  Disponível em: < http://www.fiocruz.br/ioc/media/malaria%20folder.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2018
Deane LM, Ferreira Neto J. Studies on transmission of simian malaria and on a natural infection of man with Plasmodium simium in Brazil. Bull World Health Organ. 1966;35(5):805–8.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE; Secretaria de Biodiversidade e Florestas; Departamento de Conservação da Biodiversidade; Núcleo Mata Atlântica e Pampa. Mata Atlântica Manual de Adequação Ambiental. Disponível em: http://www.mma.gov.br/estruturas/202/_arquivos/adequao_ambiental_publicao_web_202.pdf Acesso em: 25 mar 2018
Pina-Costa A, Brasil P, Di Santi SM, de Araujo MP, Suárez-Mutis MC, Santelli ACF e S, et al. Malaria in Brazil: what happens outside the Amazonian endemic region. Mem Inst Oswaldo Cruz. 2014;109(5):618–33.
Sallum MA, Daniel-Ribeiro C, Laporta G, Ferreira-da-Cruz M, Maselli LM, Levy D, et al. Finding connections in the unexpected detection of Plasmodium vivax and Plasmodium falciparum DNA in asymptomatic blood donors: a fact in the Atlantic Forest. Malar J. 2014;13(1):337.
USP, Universidade de São Paulo. Mata Atlantica, Fauna. Disponível em: http://www.ib.usp.br/ecosteiros/textos_educ/mata/fauna/fauna.htm Acesso em: 25 mar 2018
World Health Organization – WHO. Malaria. 2014.

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